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Zé Ramalho

incidências de luz

                           Carne de Pescoço
                                    Zé Ramalho

Esse quarto tem uma profunda magia.

Um ajuntamento de coisas que se combinam pela estranheza e mais ainda pela natureza que lhes diz respeito. Mais ainda em mim se integram em ação catalizadora, assimilada por tudo que se mexe, e se mistura dentro de mim, dentro de minha cabeça, antes que eu me esqueça, antes que eu me aborreça, antes que amoleça, antes que amanheça.., eu quero sair correndo em busca de outras matérias que não as minhas, outras incidências de luz, outros gases leves que não venenosos, e sinto uma saudade intensa da magia da infância. Do encontro bruto do diamante cor de rocha. Das limitações humildes em que minha imaginação voava.., e os encantos frios da noite que viam com seus olhos de eterno vigia.

esse quarto é assim:
um crescente § um mingüante
um mirante § um instante maestro
o resto é destro / é dentro / é bólido
gostando / trincando / bicho-gente
na hora de dormir
de comer
de beber
de deitar
de amar
aqui como lá for a
devemos lembrar...
muito mais que esquecer
escrevo e conto
marco cada respiração que vai para o ar
conto os fios que fabrico… os nós
ficam comigo e trazem
à qualquer hora vindo mais pedra
corro mais coelho
fico mais pernas
sonho mais árvores
fruto ave / como coisas
outras que alucinam
pela sua estranha ritualidade

caem pingos de todas as frutas
chovem sucos de sabores diversos
o ar recende a chicletes
e o mascado dos bois e das vacas
que se faz ouvir entre o pasto amarelo
onde as plantas dormiram
com o mofo das roupas abafadas
falta de respiração
angústia e sono / estado de catalepsia
capital das sensações brancas
claras como a clara
como a gema / como o negro
como o poder adormecido do povo

as realidades sensoriais
as percepções
as diversas dimensões
as projeções mentais
as ondas
as sintonias
o mar

os reflexos que lanço na mesa
representam minha geração
são do prisma do filtro solar
são da fonte da renutrição
minha fome se abate num beijo
meu desejo de ser canibal
carnaval que só dura três dias
letargias do povo sangrar

vão chegar minha mãe, meus parentes,
novamente vão iluminar
lampiões em ruelas antigas
uma música solta no ar

me entregar só for na tocaia
baleado de costas e tal
mas o mal que se afasta num rio
desafia nosso carnaval
prá você que não é perseguido
pelo horizonte de uma prisão
visão de barras / barras de opressão
visão de aço / barras do coração
arquitete sua fuga na noite
pelo canto-olho da imaginação

mantenha sua mão
desestremeça... não desanime
olhe a reta que à sua frente
caminhe por ela contorça e drible
faça do gol uma ponte
faça da ponte a passagem
passe para o lado do cisne
cisme com a face das águas
fique onde não haja mágoas

O tango como desespero. É a paixão dos submundos. As luzes de neón triste e a letargia dos pares, a beleza sensual e extraordinária da decadência. Aqueles dias antigos que serão sempre e agora, o mesmo nó do sufoco... que aperta de hora em hora

até que a linda dama chegue
na carruagem de sonhos delirantes
aqueles temporais de carne
que tudo arrancaram e tudo arrastaram
com olhos de sampaco e temor
vermelhos cortados de veias
procuram... procuram... distantes
a brecha longa da fuga
a faca fresta da noite
até que os donos do mundo
removam a sombra dos olhos
e a maquiagem derreta
no coração dos metais
vamos tecendo essa teia
dormindo soltos no chão
sem precisar do novelo
dos labirintos-pensão
que alugam quartos senhoras
com muito rigor e acato
a moços de fino trato
rapazes de muito orgulho

cansam-se as coisas subterrâneas
os que ainda vivem debaixo da grama
das ervas / da cama
da copa das árvores / da copa do baralho
das ervas daninhas
dos que choram por telegrama
as delícias do seu sucessor
e você professor
que ensina aos meninos do mundo
as certezas de cada segundo
que passam por essa história
por essa memória / por oratória
um confessionário que ilude
as estantes e os instantes
os esforços todos úteis
não conseguem aliviar
as dores que voltam e voam
como aves ferozes
de dentes afladíssimos
no céu todas as bocas
que só desejam cantar
e embora queiram sempre se renovar
não há maneiras de se apagar
aquelas sombras negras dos tiranos
que sucumbiram tantos semelhantes
com a lugubrez da ansiedade
dos que acabaram pendurados
na agonia de suas forcas

Somos tantos e tantos ainda por vir, que eu me assombro. Ante os que ainda virão depois que todos chegarem. O oceano tremeu de raiva e desespero por não poder nos dizer. E esperneou. Rugiu a noite inteira enquanto o homem... chorava.

    

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