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Zé Ramalho

Desafios

Carne de Pescoço
         Zé Ramalho

Submergir e transcender pelas cordas que soam tão belas, tangidas pelo seu vaqueiro poeta e cantor, do povo e do gado.

O Nordeste apresenta sua arte. Simples e mágica que vem com a ingenuidade pura da inocência intelectual. O diamante bruto e eterno que traz nas arestas grosseiras o amálgama da criação primeira.

O objetivo é uma manifestação.

O vôo longo do carcará por sobre os queimados campos do sertão.

As asas do ícaro. As Asas Delta.

O sonho primeiro do homem de saltar para os abismos e alturas trazidos por ele até o nosso século!

A pedra da gávea-bonita,concretiza os homens de braços de plumas. O místico torna-se físico. O tempo confere a experiência, enquanto os signos se revelam num pensamento presente muito mais rápido do que a velocidade da vida no cálculo aritmético.

cada um dá o que tem
diz um dito soberano
e nesse sagrado plano
impera quem traz o bem
invoca no fim do além
a todo ser com mistério
enterra todo o império
na lucidez do tesouro
e passam pingos de ouro
em cada grande hemisfério

estamos num pelejar
e cada um deles aponta
um pouco da cada conta
que vamos apresentar
um jeito de calcular
a nossa capacidade
a grande tenacidade
nas horas de resistência
um pouco de consciência
entrando pela metade

escape das emboscadas
tocaias e armadilhas
dos bichos que pelas trilhas
infestam as madrugadas
estranhos pelas entradas
impedem as transações
nos olhos desses dragões
vejo brilhar a vingança
e vejo velho e criança
perdidos pelos sertões

há tanta dificuldade
de ver a estrela do dia
que versos de poesia
afirmam com falsidade
procuram numa verdade
um meio de acreditar
nas forças que vão salvar
o mundo inteiro do fundo
no fogo-fátuo profundo!
irão as chamas queimar

e por essa encruzilhada
um passo faz o destino
o erro mais pequenino
diminui a caminhada
fica preso na entrada
quem não souber se livrar
dos homens que vão tentar
dificultar tua estrada
um deles de emboscada
decerto vai te esperar

o portão dessas entradas
é ponte para os caminhos
um deles não tem espinhos
nem rifles nem espingardas
nem tiros nem emboscadas
nem rastros de animais
nem deuses nem imortais
conhecem dessa textura
nem toda literatura
espera saber demais

nos anos que reparei
nas horas que vão passando
os homens de quando em quando
refletem no que passei
é claro que observei
nas águas e nas correntes
que descem pelas vertentes
que jeito mais que eu podia
de vez em quando eu sentia
cercado de deliqüentes

vou falar através desse martelo
o que penso da tal ecologia
um assunto que rola todo dia
como sendo o vetor de um flagelo
não importa se é feio ou se é belo
já que causa tamanha reação
impossível é parar a progressão
das indústrias que vão aparecendo
cada dia que passa vão crescendo
mais motores e mais devastação

já que vamos no verso enveredar
pelos longos caminhos do improviso
apesar de ter cuca no juízo
para as rimas que eu vou apresentar
quando foi que aprendi no seu lugar
o que vi nos poetas cantadores
serem mais do que simples professores
a mais rica centelha do estudo
entupido ficou o linguarudo
quando viu que não pode contestar

há memórias que trazem computadas
os momentos mais belos dessa vida
ou então uma coisa enegrecida
que ficou entre as outras bem guardadas
elas podem servirem de camadas
para grandes espíritos ditões
ou então distraírem os salões
quando adultos ouvirem se lembrando
do que houve com eles viajando
através de sentidas orações

há memórias que de tão resistentes
conseguiram manter fotografado
uma fonte de luzes no passado
num pedaço de imagens reluzentes
um cenário de famas diferentes
uma cena que causa emoção
um mendigo que pede no porão
um abrigo na casa da lembrança
um amigo que pede que a criança
não viaje na suma solidão

tanta coisa acontece pela vida
que algumas mais fortes vão ficando
na memória de quem for se lembrando
do que foram tais horas revividas
não é certo que sejam esquecidas
por um louco que as queria olvidar
mas quem ouve na vida vai contar
a seus filhos aos netos e bisnetos
e aos homens de dons obsoletos
que não sabem mudar nem que pensar

trinta anos que passam pela vida
já nos deixam no rosto alguma marca
e por essa idade se embarca
numa forte viagem decidida
uma força ficou esclarecida
pelas coisas que eu pude observar
como é bom se perder e se ganhar
nas idades que o homem vai vivendo
são as fases que vão se sucedendo
em cada uma ele tem do que gozar

LEBLON AGALOPADO

esse gado parece minha gente
caminhando perdido nas estradas
desce as ruas rolando nas calçadas
foi Jesus que o fez tão displicente
talião me falou dente por dente
e eu por gado engoli essa engrezia
me ferraram a pele que cobria
reinvento a história passa a passo
gado manso descendo cabisbaixo
de cansaço eu invento a fantasia

vejo os carros nas ruas do Leblon
reluzindo nas luzes quando passam
e as meninas dos olhos se embaçam
procurando saber o que é bom
meu ouvido inventa um novo tom
muito mais do que aquilo que aprendeu
quando sonha nos braços de morfeu
o barulho transforma em harmonia
e eu destilo o ruído em sinfonia
e desenrolo o novelo de Teceu

Obs: improviso de Alceu Valença e Zé Ramalho num bar no Leblon. Rio / Setembro / 77

    

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