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Zé Ramalho

filhos do câncer

                           Carne de Pescoço
                                    Zé Ramalho

disseram que Zarathustra
falava tudo o que já haviam antes
escutado os pais e avós

meu sono está inquieto
enquanto fumo me roubam o sono
e quero mais acabar
da melhor maneira possível
o modo de consumir
as coisas que mais proibidas
mais tornam atraentes
que temo a passagem mais larga

demais grande e desigual
como se todos todas correntes
do rio pudesse arrastar

ninguém mais pode fugir
das coisas boas daqui
é ruim quem não trouxe saudade
fez do segredo a maldade
enxotou-se na cidade
e fez do velho progresso
que ninguém mais quis fugir
a felicidade arriscada
em seis metros de iludir

o mágico chega
com seus passes estranhos

com seus olhos de povo
conduzindo rebanhos

retirando animais
dentro da roupa suja

com seus dedos de louco
impedindo que fujam

nadando na meia-noite
bebendo no meio-dia
tomando banhos de cor
dormindo na ventania

como um mendigo
embriagado e úmido
procurou licores
e engoliu amores

o narcótico manso
roubei lá das flores
e o motivo descanso
me trouxe procuras
ruelas escuras
entre noites e sombras
e o estigma morto

os dinossauros imagináveis
aqui desceram as desovas
e tantas provas / tantos enigmas
tantos estigmas / que hoje nutridos
nunca lembrados
nunca cansados
nem mencionados
as edições e partículas
que os vibram e que os passam
que se entregam à gente
que se intrometem na gente
no estranho e curioso equívoco
de tudo que foi ensinado

pois das teclas desses órgãos
soam malditas notas
acôrdos e transações

procuram e se expulsam
num sublime regime
mordem e se devoram
contudo se arremessam

em seguida se arrependem
e intoxicam-se
tornam-se tigres / domáveis
como os da esso
bichanos de estimação
vadios gatos da rua

e os ratos lambem-na nua
enquanto o queijo no chão
esconde uma armadilha
que tende a submissão

por mais que se limpe.., a poeira
ela vem... de novo e pousa

por mais que se lave a roupa
ela fica suja... e mancha

por mais que se queira limpo
algo apodrece... e fede

mesmo porque... tudo que envelhece
se torna verme
volta prá terra
vira sub-solo
crosta do planeta

o estado ruim da matéria
o desenbocar das artérias
o impuro sangue das veias
os poucos pratos da ceia

não bastariam para dizer
tudo que integra e une

tudo que imagino e gasto
tudo que uno e descolo

tudo o que faço e comovo
tudo o que foi e que vi
tudo o que viu e ficou

não queremos que fique
o lado triste das coisas
nem o olho escuro
que veio procurar de uma forma
de veias abertas misturas
mais fortes que a própria morte
mais belos que a mais bonita
mais tristes que harmonia
mais sábios que eternidade
mais filhos que o desejo
do mais alucinado beijo
na força quente do inferno

no rastro a cobra
serpente rainha
demônio vitelo
arrasta a bainha
moleja sozinha
por dentro e por for a
a cobra caminha
medonho segredo
no seu requebrar

na lente da taça
a cor do veneno
no seu sibilar
as sílabas tremem

mulheres e plumas
se enlaçam noturnas
em anéis que sufocam
as presas do tempo
me estás parecendo
que os dentes que mostras
estão rebentados
de tanto picar

além do encanto
da flauta e do cesto
conheço magias de te molestar

não é de maçã
não é de manhã
não é de satã
que eu quero falar

é sim do mistério
das pedras que trago
no meio das pernas para caminhar

aninha teus ovos
nas terras do fogo
nos cacos do povo
repõe a manhã

desperta a sirene
cuidado com o lince
com a água sombria
sapatos e patas
pisadas e socos

a gema tão clara
a casca do ovo
filhotes pequenos

se arrastem bem menos
que as piranhas do rio
que o pecado de adão

o dia vem
e com ele os pássaros

a dança das luzes
e as sombras se escondem

uma profunda quietude... acontece

por entre as veias
um córrego lança sereno
um rio grande e vermelho
na catacumba cardíaca
até que ouve e adormece

os vasos cheios de plantas
todas vistas e nunca tocadas

sobre o sol da terra
sobre a fé dos montes
sobre os horizontes
as estrelas descalças
não sabemos muito
do seu sono brilhante
de astros encadenados
derramando fulgores
entre cada paixão

    

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