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Uma CPI Moralista
Seria a Vitória dos Imorais
Será que ninguém vai levantar a voz para defender o bom
funcionamento do país, diante desse ridículo episódio do "pecado" de
Waldomiro? Julguem o "pecador", já que o caso está com ares de
inquisição religiosa. Prendam-no, se for o caso, mas preservem o bem
da República. Este meu artigo é obvio, mas diante de tanta
hipocrisia, só obvio pode ajudar. Esse episódio não tem a menor
importância; o fato de terem descoberto um assessor com a mão na
cumbuca não beneficia nem a moralidade nem a verdade. Ao contrário,
esse ardor udenista anacrônico, com a súbita "pureza" dos velhos
políticos fisiológicos, eriçados como as "cerdas bravas do javali",
só prejudica a todos nós. Não há desejo de "moralidade". O desejo
real é de abalar o PT no poder. Mais nada. Os que me lêem, na minha
pobre vida de jornalista, sabem que passei oito anos esculhambando o
PT e, especialmente, o Zé Dirceu porque, em nome de interesses
partidários prejudicaram um momento em que tivemos um presidente
decente, seriamente preocupado com a modernização do país.
Atazanaram o homem como se ele fosse mais um picareta que tivesse
chegado ao poder. Não era. FHC foi uma exceção na história da
república; foi um acaso político que um homem de sua estatura
chegasse ao poder. O Lula também é um caso excepcional. Ambos são
filhos do mesmo momento histórico, de 20 anos atrás, quando a
redemocratização propiciou o surgimento de um partido de origem
trabalhista como o PT e um partido ético, liderado por homens sérios
e patriotas como Montoro, Serra, Covas e FHC, entre outros. Duas
visões irmãs da social-democracia. Uma das grandes decepções de
minha vida foi ver o PT atacando o velho companheiro FHC que
distribuía panfletos com Lula em São Bernardo; foi ver a estúpida
academia atacar seu colega FHC por rancor e inveja, foi ver que os
intelectuais não percebiam que esse acaso histórico tinha de ser
preservado contra os falsos cânones tradicionais, contra categorias
formais de analise política.
O Brasil não é um país normal. Não pode ser analisado por critérios
idealizados, como se fôssemos Suíça ou Bélgica. O Brasil é a
história da depredação de donatários sobre colonos, o Brasil é a
história de uma endemia corrupta de 400 anos, de um grande discurso
oligárquico, para manter os cidadãos iludidos e inermes. Se olharmos
para trás, só veremos horrores no poder, chanchadas, caricaturas,
presidentes depostos, militares boçais, bêbedos renunciando,
megalomaníacos fazendo cidades, camarilhas de Ali-Babas falando em
"honra". Que papo é esse de "restauração de moralidade" dentro do
vergonhoso ambiente político que nos assola? O Brasil é um grande
bingo. Que "moralidade" é essa que a mídia defende, obedecendo
cegamente à versão oficial de políticos que querem desestruturar um
governo que é originariamente (e até ingenuamente) comprometido com
a tentativa de mudança do país? Não votei em Lula. O PT no poder tem
cometido bobagens, sem dúvida. Mas, não é esse o problema principal.
Estão tentando pegar no PT uma doença que não é dele. O PT, Lula,
Dirceu sofrem de outras "doenças infantis", mas não sofrem da doença
desse estamento fisiológico que comanda a zorra total há séculos.
Alguém chamou de "síndrome da farinha do mesmo saco". "Está provado.
Viva! Somos todos iguais!", berram os corruptos. Essa gente odeia
não o PT ou o FHC; eles têm horror de qualquer governo com algum
projeto ideológico para o país. A maior novidade dos governos de FHC
e de Lula foi justamente que, em vez de chafurdarem gostosamente no
lodo - como sempre fizeram outros governos - buscaram uma renovação
ética. Os dois presidentes tratam a escrotidão fisiológica
pragmaticamente, tentando governar com o país possível. Seu erro é
que dois homens progressistas governaram, um com o apoio de ACM,
outro com Sarney e nunca se uniram. Como explicar isso? Neste
momento, o ato mais revolucionário e patriótico seria o PSDB atacar
publicamente essa CPI absurda, tirando munição dos golpistas que
defendem a "honestidade". Não se trata de defender as pessoas,
Dirceu, quem seja, mas de defender a máquina republicana. Deixaram
essa função para o PMDB. Quem está fazendo isso? Sarney - a quem
Lula foi pedir ajuda. Por bons ou maus motivos, Sarney está fazendo
o que o PSDB devia fazer. A oposição que o PT fez a FHC por oito
anos foi um dos maiores erros históricos do Brasil, uma enorme
oportunidade perdida. Será que o PSDB, que se arroga uma visão
macro-histórica, "processual", vai repetir o erro? Quem ganha com
uma CPI e com um governo entrando em "anomia" são justamente são
justamente os parasitas que vivem entre o público e o privado, são
os reacionários tradicionais, são os velhos udenistas disfarçados,
são os oligarcas que querem o retorno do tempo torto, quando a
metáfora "brasil" era apenas um pretexto para os negócios espúrios.
A mídia, em geral, cai na rede do moralismo e de uma "objetividade"
não-opinativa e não questiona os motivos sujos atrás da busca de
"pureza". Ficam rodando na aparência dos fatos e não desvendam os
motivos ocultos. Eu digo claramente o que penso: Zé Dirceu é um
defensor da causa brasileira, com todas as babaquices que possa ter
cometido. Esse governo padece de outras doenças, mas é basicamente
"limpo" e uma CPI hoje não seria uma vitória da "moralidade", mas,
ao contrário, seria um triunfo dos imorais. O país do atraso quer
roer os petistas no poder. Os grandes ladrões públicos se regozijam
com esse escândalo que irrompeu com o Waldomiro. Políticos que
sempre pensaram em vantagens, resolvem bancar prostitutas
escandalizadas e pedem a cabeça dos social-democratas. Foi assim com
FHC e agora será com o Lula. Um udenismo malsão e hipócrita quer
escangalhar a máquina do poder. Este é o paradoxo: uma CPI agora só
beneficia os que odeiam a moralidade política.
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