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Perguntas &
Respostas
Cinema, teatro, televisão,
imprensa.
Você se definiria hoje como um artista multimídia?
JABOR
Eu me defino como alguém que fez cinema durante vinte e poucos anos
com a mesma perspectiva com que hoje faço jornalismo e comentários
em televisão. A perspectiva de entender o Brasil, ajudar a melhorar
o país. É um vício iluminista. Tento jogar um pouco de luz num país
tão surrealista como o nosso. No jornalismo, é linha direta. Faço
uma espécie de filme de mim mesmo. Eu sou o diretor, o ator e a
vítima do crime. Me coloco na posição de sujeito e cidadão. Tento
ser uma espécie de desbravador do óbvio. Pela primeira vez na minha
vida, me sinto como um instrumento de utilidade pública.
Quais são as principais influências do Arnaldo Jabor,
autor destes "Sanduíches de Realidade"?
JABOR
Eu me identifico com os artistas que atacam a realidade aceita como
normal. Gosto dos escritores realistas críticos, na tradição de
Balzac, Flaubert e, na língua portuguesa, Eça de Queiroz.
O new journalism americano também me influenciou muito. Norman
Mailler, Gore Vidal etc. A idéia de usar o efêmero do jornal para
analisar o eterno erro da vida. O efêmero é mais moderno que o
eterno. O efêmero vitaliza a literatura. Nas minhas crônicas, busco
a seriedade do texto literário. Se está escrito em jornal ou livro,
não importa tanto. "Os Sertões" foi publicado em capítulos no jornal
antes de sair em livro. Até penso em escrever um romance em
capítulos em jornal. O suporte do jornal é muito moderno e muito
profundo.
Suas crônicas muitas vezes são delirantes.
Essa é uma forma de dar conta do surrealismo brasileiro?
JABOR
Acho que a realidade é delirante. Não existe uma separação do mundo
do sonho e do mundo da vigília. Inconsciente e mundo são duas coisas
intrincadas. Não acredito em sujeito de um lado e objeto de outro.
Sujeito e objeto se confundem. Tento ser sujeito e objeto. Os
idiotas da objetividade, como dizia o Nelson Rodrigues. Está escrito
por um sujeito, um ser vivo, que também é objeto da realidade. No
Brasil, principalmente, ficção e realidade são a mesma coisa. A
petite histoire brasileira é tão importantre quanto as grandes
causas históricas. O Brasil é um país muito novelesco. O que
aconteceu conosco no período do Collor foi um melodrama.
Como um dos principais
"analistas" do Brasil,
você nutre esperanças em relação ao país?
JABOR
O Brasil progride enquanto dorme. É um país tão rico culturalmente
que evolui meio sozinho, a despeito dos seus políticos. Minha
esperança é mais na antropologia do que na ideologia. Você vai para
a Bahia e vê que aquilo está salvo, que está enraizado na alma das
pessoas. Existe uma resistência na força cultural do Brasil que a
política não consegue matar. Não vejo nenhuma ameaça na globalização
no sentido de acabar com a cultura brasileira, porque essa é uma
cultura muito forte. Percebo que o Brasil está num momento de muita
curiosidade crítica sobre si mesmo. O Brasil hoje é um enigma, um
suspense, não é mais uma ilusão. Nossa história se escreve pela
perda progressiva das ilusões.
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