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O Mundo Hoje é
Travesti
Toda hora um idiota me copia e joga
na rede. Por isso, vou falar um pouco de mulher, eu que mal as
entendo na vida. Não falarei das coxas e seios e bumbuns... Falo de
uma aura mais fluida que as percorre.
Um sorriso de descrédito lhes baila
na boca quando lhe fazemos galanteios, mas acreditam assim mesmo,
porque elas querem ser amadas, muito mais que desejadas. Elas estão
sempre fora da vida social, mesmo quando estão dentro.
As mulheres têm uma queda pelo
canalha. O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o
canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão
amorosa: quer que o homem a entenda, mas isso está fora de nosso
alcance. A mulher pensa por metáforas.
Digo melhor, a mulher compõe quadros
mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte.
O homem quer princípio, meio e fim. Não estou falando da mulher
sociológica, nem contemporânea, nem política. Falo de um sétimo
órgão que todas têm, de um "ponto g" da alma. Carinhosas, mas com perigo no ar. A carinhosa total entedia os machos... ficam claustrofóbicos. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor. Mas, curioso, a mulher nunca é corna, mesmo abandonada, humilhada, não é corna. O homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroína, quase uma santidade. É uma fúria de Deus, é uma vingadora, é até suicida. Mas nunca corna.
O homem corno é um palhaço. Ninguém
tem pena do corno. O ridículo do corno é que ele achava que a
possuía. A mulher sabe que não tem nada, ela sabe que é um processo
de manutenção permanente. O homem só vira homem quando é corneado.
Muita vez, seus abismos são
venenosos, seu mistério nos mata. A mulher quer ser possuída, mas
não só no sexo, tipo "me come todinha". Falam isso no motel,
para nos O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens. A mulher quer ser possuída em sua abstração, em sua geografia mutante, a mulher quer ser descoberta pelo homem para ela se conhecer. Ela é uma paisagem que quer ser decifrada pelas mãos e bocas dos exploradores.
Ela não sabe quem é. Mas elas também
não querem ser opacas, obscuras. Querem descobrir a beleza que cabe
a nós revelar-lhes. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha
que sabe.
Ela vive buscando atingir a plenitude
e essa luta contra o vazio justifica sua missão de entrega. Mesmo
que essa "plenitude" seja um "living" bem decorado ou o perfeito
funcionamento do lar. O amor exige coragem. E o homem... é mais
covarde. O homem, quando conquista, acha que não tem mais de se
esforçar e aí , dança...
Ela tem algo de essencial, tem algo a
ver com as galáxias. Nós somos um apêndice. A supergostosa é homem.
É um travesti ao contrário. Alguns
dizem que os homens erigiram seus poderes e instituições apenas para
contrariar os poderes originais bem superiores da mulher. Carregam o fardo da dor histórica e social, por serem mais sensíveis e mais fracas. Os homens, por serem fálicos, escamoteiam a depressão e a consciência da morte com obsessões bélicas, financeiras ou políticas. As mulheres agüentam firmes a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que está ficando feminino, como uma mulher perdida: nunca está onde pensa estar. O mundo determinista se fracionou globalmente, como a mulher. Mas não é o mundo delicado, romântico e fértil da mulher; é um mundo feminino comandado por homens boçais. Talvez seja melhor dizer um mundo travesti. O mundo hoje é travesti.
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