NOSSAS VISITAS |
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Roubar é um
Prazer Quase Sexual
Por que há tanto ladrão no Brasil? Ah... Miséria, falta de
emprego... Mas...
não é só isso. Não falo dos ladrões de galinha, que pulam janelas
mordidos de cachorro. Falo do ladravaz instituído, aquele que mora
dentro dos cofres públicos, que passa dias e noites estudando como
burlar as leis e burocracias. Nos grandes e pequenos há, claro, o
doce prazer da adrenalina.
Roubar é uma aventura louca, um filme de ação, roubar é um vício
secreto:
poder entrar numa loja e "estarrar" um livro ou uma jóia, com o
coração disparado pelo pavor de ser pêgo, e a imensa alegria do
êxito de sair na rua, sem ninguém ver. No caso do ladrão da coisa
pública, há o estímulo da vingança contra secretas humilhações -
você se vinga dos ladrões que sempre te "roubaram". "Ahhh... estou
tirando o meu... Esses ladrões do governo roubam há séculos... antes
eu que eles..."- se justificam.
Um velho executivo me contou que já comprou um presidente da
República. E foi humilhado como se fosse ele o ladrão. O presidente
dera ordem para que a eterna mala preta fosse entregue dentro do
próprio Alvorada. Ele foi entrando por todas as portas e ninguém o
barrava. Já era de noite. Até que chegou à sala do presidente. Luz
acesa e, lá longe, o chefe da nação, fingindo desatenção, escrevia
na mesa. Olhou o velhinho com desprezo e apontando-lhe o dedo
ameaçador berrou, expulsando-o: "Deixe a mala aí no chão e...
retire-se!" O pobre homem se esgueirou como um cão pelo palácio e
foi vomitar nos tinhorões do jardim.
No caso dos ladrões públicos, o roubo tem uma conotação até meio
patriótica, pois já vi muita gente se orgulhar de não pagar imposto.
"Eu? Pagar para esses vagabundos pagarem o FMI? Nunca!" Esse é o
ladrão de esquerda. Hoje, muitos pululam dentro da administração
infiltrada de petistas, que vêem o governo como um palácio a ser
saqueado.
Há muitos tipos de ladrões. Já conversei com alguns deles na
maciota, para perceber o motivo que os anima. O mais recorrente é o
desejo de "dar um tapa numa nota" e resolver a vida. A idéia de
"sair" da sociedade e de seus contratempos, de ir para uma praia
infinita e nunca mais parar de beber água-de-coco. Mas, esses ainda
são amadores. O grande ladrão quer ficar, roubando sempre. É uma
missão.
Esse ladrão vocacional é olhado com admiração nas churrascarias e
shoppings.
"Olha lá o ladrão!..., diz o executivo traçando uma picanha. O outro
responde: "É ladrão, mas é espada, dá nó em pingo d'água!..." E o
vagabundo desfila, com perfil de medalha.
Eles dizem que depois do primeiro milhão de dólares, o negócio é
mais sexual.
Um sujeito me contou que já pegou muita mala preta debaixo de banco
de praça. A adrenalina que rola na hora de ver as verdinhas é melhor
que morfina. Palpar os dólares arrumadinhos pela concessão pública
de um canal de esgoto ou de um golpe no INSS são volúpias
inesquecíveis.
Outro me contou que adora ver os olhos covardes do empresário
pagando-lhe a propina para o empréstimo público ou para o perdão da
dívida. O empresário tenta fingir naturalidade, mas o ódio
acende-lhe os olhos. Disse-me: "Adoro ver-lhe a raiva travada, o
sapo engolido, fingindo-se simpático, adoro ver-lhe as mãos
trêmulas, adoro até o desprezo impotente que ele tem por mim,
vendendo-me eu, eu, o desonesto sem-vergonha. Gosto de me sentir
conspurcado pelo nojo do outro." Disse-me também esse mr. M... da
roubalheira: "Hoje, estou aposentado, boiando aqui na minha piscina
enorme em forma de vagina, mas me babava de prazer quando via a cara
do juiz tentando uma severidade olímpica, enquanto exarava uma
liminar comprada e que se exasperava, mudo, quando via a piscadela
cúmplice que eu lhe dava na hora da sentença. Não sei por que me
sinto superior aos otários que me compram; não me ofendo, ao
contrário, olho-os do alto! Roubar é sexy, meu amigo - me disse o
ladrão aposentado, deitado numa bóia roxa, flutuando na piscina, com
um coquetel amarelo e rosa na mão - Roubar dá tesão!" Roubar tem
algo de orgasmo. Quando o sujeito embolsa uma bolada, o fluxo de
libido é inesquecível.
Eu mesmo, uma vez, estava com uma pasta com cerca de 50 mil dólares
dentro.
Fui tomar um cafezinho e tive o capricho de deixar a pasta em cima
do balcão, ao lado do açucareiro, onde se acotovelavam proletários
com copinhos de cachaça, e eu pensava: "Nessa pasta aí está a
salvação deles e eles nem imaginam..."
Vejam o prazer perverso do poder...
Nos ladrões bem-sucedidos do Brasil, há o orgulho imenso da
cafajestice:
todos passam a entender de vinho quando enricam, todos compram
lanchas e gado, todos arranjam amantes "cachorras", de cabelo
pintado e correntinha no tornozelo, todos se deliciam em se saber
vilipendiados pelas costas em salões de grã-finos sussurrando "Olha
o ladrão...", mas sabendo-se também invejados pelas aventuras que
eles lhe atribuem. As mulheres imaginam os colares que ganhariam se
fossem suas piranhas louras, como nos filmes de gângsteres dos anos
40. Nelson Rodrigues dizia que o honesto tem úlcera e que a mulher
lhe atira na cara: "Você não é honesto, não; você é burro!"
Senti mesmo, em alguns canalhas que conheci, o orgulho de suportar o
sentimento de culpa que raras vezes lhes bate na consciência quando,
digamos, roubaram verbas de remédios para criancinhas com câncer;
sua gelada indiferença lhes parece prova de macheza, quase
integridade. Um assassino do esquadrão da morte, que namorou uma
atriz com quem trabalhei, contou-lhe que se masturbava diante do
estrangulamento de crioulos num terreno baldio, indo depois para
casa, onde os filhos felizes vêem desenho animado na TV.
Um ladrão intelectual me disse: "Este país foi feito assim: na vala,
entre o público e o privado. Há uma grandeza na apropriação
indébita, florescem ricas plantas na lama das roubalheiras. A bosta
não produz flores magníficas? Pois é... o Brasil foi construído com
esse fertilizante. O progresso do País deve-se a roubalheira
secular. Sempre foi assim e sempre será. Roubo é cultura..."
Enquanto isso, o STF quer acabar com os poderes do Ministério
Público...
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