QUINTA PARTE

  Eu Não Gostava do
    Papa João Paulo II

  Roubar é um Prazer
    Quase Sexual

  Eu já vi o Medo da
    América Profunda

  As Pérolas Pescadas
    no Excremento

  O Mandacaru na
    Sala de Jantar

  É um Mal não
    Freqüentar o Bem

  Osama Acabou com
    o "Happy End"

  Os Sete Vícios
    Capitais do PT no...

  "Redentor" chama
    Deus para Nos Salvar

  Nunca a Burrice fez
    Tanto Sucesso

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NOSSAS VISITAS


 

 

               Arnaldo Jabor        

 

É um Mal não Freqüentar o Bem

Deus e diabo se confundem no mundo atual

O mal é o bem ou o bem é o mal?

Antigamente, era mole. O mal era o capitalismo o bem o socialismo. “É um mal não freqüentar o Bem”, dizia o slogan do “Bar Bem”, onde íamos papar as namoradas na Barra da Tijuca do passado, quando pecávamos com o delicioso sentimento de culpa. Vivíamos divididos. Eu, pelo menos, aluno de jesuítas, me torturava em busca de um caminho de virtude, mesmo que fugindo das regras obrigatórias da igreja e da moral. Pecando contra a castidade, criticando a moral pequeno-burguesa, brigando com pai e mãe, estava sempre me achando um pesquisador do bem.

Agora, os intelectuais, os bondosos de carteirinha, os cafetões da miséria, santos oportunistas, estão todos em pânico. Se não houver um mal claro, como seremos ‘bons’ ? No mundo inteiro há uma reviravolta ética, um maniqueísmo ao avesso, um cinismo que nos acostuma com o inaceitável. Nosso destino mundial para o século 21 está sendo decidido por um imbecil. Bush, a besta quadrada do apocalipse, pode derrotar um democrata decente que quer salvar a América do caos. Enquanto isso, em nosso mundinho brasileiro, vemos nas eleições o PT se aliando com todos os cafajestes, os nefastos e malvados contra seus primos irmãos do PSDB na luta pelo poder. Pela lógica petista, eles, seres superiores, podem fazer todas as sacanagens sem sujar as mãos, pois estão pensando numa “limpeza maior” herdada do socialismo. Maluf e o PTB conclamados para derrotar um homem serio como o Jose Serra.

O Mal é sempre o outro. Nunca somos nós. Ninguém diz, de fronte alta: “Eu sou o mal!” Ou: “Muito prazer, Demônio de Almeida”. O PT acha que pode dizer: “Serei o mal provisoriamente. Depois serei o bem.” Assim, os soviéticos justificaram milhões de assassinatos pelo bem do Homem Total. Assim, o herói do bem Che Guevara cometeu o mal provisório de fuzilar 2000. Mas, o mal deixa marcas, suja, estraga.

Outro dia, um bispo excomungou um juiz que autorizou o aborto de uma criança sem cérebro. O aborto legal é o mal? O bem é deixar nascer trágicos desgraçados? O bispo acha que sim. E além de tudo, sugeriu que os filhos anormais ou de mulheres estupradas não fossem abortados e que depois fossem educados pela Igreja, como órfãos malditos. Talvez seja o pior destino para uma criança: “Quem é você?” “Eu sou o filho do Motoboy assassino, adotado e educado pelo dom Tomas Balduino.”

O bem está virando um luxo e o mal e’ uma necessidade social. Sem participar do mal, não conseguimos viver. Como ser feliz olhando as crianças famintas? Temos de fechar os olhos. A felicidade é uma virtude excludente. “Sou feliz, se conseguir manter os olhos fechados.”

Ser feliz é não ver. O mal está virando um mecanismo de defesa. Quem é o mal: o assaltante faminto ou o assaltado rico? Ou nenhum dos dois? E’ o neoliberalismo? Quem é o planejador do mal? O Japão vai parar de produzir robôs, para empregar a mão-de-obra faminta de Ruanda? Quem controla o mal? Osama? Bush? Ou eles são objetos de um “mal” histórico-concreto inevitável? O mal não estará entranhado na matéria profunda do mundo? Como praticar o bem? Apenas se horrorizando com o mal? Não vale ficar “tristinho”, nem lançar apelos à razão ou à caridade.. Eu fiz tudo para ser um homem de bem. Serei um canalha? Todos se acusam mutuamente. Todos querem ser o bem. Durante a ditadura, todos éramos o bem. O mal eram os milicos. Acabou a dita e as “vitimas” (dela) pilharam o Estado. O que é o bem hoje? É lamentar tristemente uma impotência, é um negror melancólico, é um elogio da morte? Ou o bem é ser pragmático, frio? É uma identificação mecânica com os pobres ou um desejo ‘protestante’ de melhorar na vida?

Todo pensamento aspira à totalidade. O bem é um desejo de harmonia, de Uno, de totalidade ou o bem é suportar heroicamente o múltiplo, o incontrolável, a impotência ‘democrática’? O bem hoje é aceitar os limites do possível histórico, é tentar trabalhar dentro do mundo real ou persistir em utopias ridículas, apenas pelo prazer de se sentir acima da insânia da vida?

Pensamos com o corpo, queremos que o mundo seja um “todo harmônico”, como o nosso organismo. A idéia de “fragmentário” gera angustia porque lembra a morte.

Hoje, com a queda das utopias, a razão tenta se adaptar ao absurdo pos moderno. Mas o problema é que não conseguimos pensar sem desejar alguma totalidade. Assim, a aceitação do fragmentário se re-erige em nova totalidade e começa tudo de novo.

O problema hoje é que até o homem-bomba é o bem. O mal dos terroristas consiste em injetar o arcaico no moderno, eles, os ‘bárbaros tecnizados’.

Ao denunciar o Mal, vivemos dele. Eu ganho a vida denunciando o que acho o ‘mal’.

Para a razão digital, o mal no mundo atual é o “incompreensível”. E só o Mal pode dar conta do mal. O bem tem de conhecer o mal e se travestir de mal para combatê-lo.

No Brasil, o mal, o grande Mal, não tem importância. O perigo aqui é o pequeno mal, enquistado nos estamentos, nos aparelhos sutis do estado, nos seculares dogmas jurídicos, nos crimes que são lei. O mal aqui está nos pequenos psicopatas que, quietinhos, nos roem a vida. Aqui o grande canalha serve para camuflar os pequenos (que são os grandes) canalhas. O mal do Brasil não está na infinita crueldade dos torturadores ou das elites sangrentas; está mais na sua cordialidade. O mal nos engana, no Brasil. Aqui, o perigo é o Bem.

 

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