NOSSAS VISITAS |
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É um Mal não
Freqüentar o Bem
Deus e diabo se confundem no mundo atual
O mal é o bem ou o bem é o mal?
Antigamente, era mole. O mal era o capitalismo o bem o socialismo.
“É um mal não freqüentar o Bem”, dizia o slogan do “Bar Bem”, onde
íamos papar as namoradas na Barra da Tijuca do passado, quando
pecávamos com o delicioso sentimento de culpa. Vivíamos divididos.
Eu, pelo menos, aluno de jesuítas, me torturava em busca de um
caminho de virtude, mesmo que fugindo das regras obrigatórias da
igreja e da moral. Pecando contra a castidade, criticando a moral
pequeno-burguesa, brigando com pai e mãe, estava sempre me achando
um pesquisador do bem.
Agora, os intelectuais, os bondosos de carteirinha, os cafetões da
miséria, santos oportunistas, estão todos em pânico. Se não houver
um mal claro, como seremos ‘bons’ ? No mundo inteiro há uma
reviravolta ética, um maniqueísmo ao avesso, um cinismo que nos
acostuma com o inaceitável. Nosso destino mundial para o século 21
está sendo decidido por um imbecil. Bush, a besta quadrada do
apocalipse, pode derrotar um democrata decente que quer salvar a
América do caos. Enquanto isso, em nosso mundinho brasileiro, vemos
nas eleições o PT se aliando com todos os cafajestes, os nefastos e
malvados contra seus primos irmãos do PSDB na luta pelo poder. Pela
lógica petista, eles, seres superiores, podem fazer todas as
sacanagens sem sujar as mãos, pois estão pensando numa “limpeza
maior” herdada do socialismo. Maluf e o PTB conclamados para
derrotar um homem serio como o Jose Serra.
O Mal é sempre o outro. Nunca somos nós. Ninguém diz, de fronte
alta: “Eu sou o mal!” Ou: “Muito prazer, Demônio de Almeida”. O PT
acha que pode dizer: “Serei o mal provisoriamente. Depois serei o
bem.” Assim, os soviéticos justificaram milhões de assassinatos pelo
bem do Homem Total. Assim, o herói do bem Che Guevara cometeu o mal
provisório de fuzilar 2000. Mas, o mal deixa marcas, suja, estraga.
Outro dia, um bispo excomungou um juiz que autorizou o aborto de uma
criança sem cérebro. O aborto legal é o mal? O bem é deixar nascer
trágicos desgraçados? O bispo acha que sim. E além de tudo, sugeriu
que os filhos anormais ou de mulheres estupradas não fossem
abortados e que depois fossem educados pela Igreja, como órfãos
malditos. Talvez seja o pior destino para uma criança: “Quem é
você?” “Eu sou o filho do Motoboy assassino, adotado e educado pelo
dom Tomas Balduino.”
O bem está virando um luxo e o mal e’ uma necessidade social. Sem
participar do mal, não conseguimos viver. Como ser feliz olhando as
crianças famintas? Temos de fechar os olhos. A felicidade é uma
virtude excludente. “Sou feliz, se conseguir manter os olhos
fechados.”
Ser feliz é não ver. O mal está virando um mecanismo de defesa. Quem
é o mal: o assaltante faminto ou o assaltado rico? Ou nenhum dos
dois? E’ o neoliberalismo? Quem é o planejador do mal? O Japão vai
parar de produzir robôs, para empregar a mão-de-obra faminta de
Ruanda? Quem controla o mal? Osama? Bush? Ou eles são objetos de um
“mal” histórico-concreto inevitável? O mal não estará entranhado na
matéria profunda do mundo? Como praticar o bem? Apenas se
horrorizando com o mal? Não vale ficar “tristinho”, nem lançar
apelos à razão ou à caridade.. Eu fiz tudo para ser um homem de bem.
Serei um canalha? Todos se acusam mutuamente. Todos querem ser o
bem. Durante a ditadura, todos éramos o bem. O mal eram os milicos.
Acabou a dita e as “vitimas” (dela) pilharam o Estado. O que é o bem
hoje? É lamentar tristemente uma impotência, é um negror
melancólico, é um elogio da morte? Ou o bem é ser pragmático, frio?
É uma identificação mecânica com os pobres ou um desejo
‘protestante’ de melhorar na vida?
Todo pensamento aspira à totalidade. O bem é um desejo de harmonia,
de Uno, de totalidade ou o bem é suportar heroicamente o múltiplo, o
incontrolável, a impotência ‘democrática’? O bem hoje é aceitar os
limites do possível histórico, é tentar trabalhar dentro do mundo
real ou persistir em utopias ridículas, apenas pelo prazer de se
sentir acima da insânia da vida?
Pensamos com o corpo, queremos que o mundo seja um “todo harmônico”,
como o nosso organismo. A idéia de “fragmentário” gera angustia
porque lembra a morte.
Hoje, com a queda das utopias, a razão tenta se adaptar ao absurdo
pos moderno. Mas o problema é que não conseguimos pensar sem desejar
alguma totalidade. Assim, a aceitação do fragmentário se re-erige em
nova totalidade e começa tudo de novo.
O problema hoje é que até o homem-bomba é o bem. O mal dos
terroristas consiste em injetar o arcaico no moderno, eles, os
‘bárbaros tecnizados’.
Ao denunciar o Mal, vivemos dele. Eu ganho a vida denunciando o que
acho o ‘mal’.
Para a razão digital, o mal no mundo atual é o “incompreensível”. E
só o Mal pode dar conta do mal. O bem tem de conhecer o mal e se
travestir de mal para combatê-lo.
No Brasil, o mal, o grande Mal, não tem importância. O perigo aqui é
o pequeno mal, enquistado nos estamentos, nos aparelhos sutis do
estado, nos seculares dogmas jurídicos, nos crimes que são lei. O
mal aqui está nos pequenos psicopatas que, quietinhos, nos roem a
vida. Aqui o grande canalha serve para camuflar os pequenos (que são
os grandes) canalhas. O mal do Brasil não está na infinita crueldade
dos torturadores ou das elites sangrentas; está mais na sua
cordialidade. O mal nos engana, no Brasil. Aqui, o perigo é o Bem.
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