QUINTA PARTE

  Eu Não Gostava do
    Papa João Paulo II

  Roubar é um Prazer
    Quase Sexual

  Eu já vi o Medo da
    América Profunda

  As Pérolas Pescadas
    no Excremento

  O Mandacaru na
    Sala de Jantar

  É um Mal não
    Freqüentar o Bem

  Osama Acabou com
    o "Happy End"

  Os Sete Vícios
    Capitais do PT no...

  "Redentor" chama
    Deus para Nos Salvar

  Nunca a Burrice fez
    Tanto Sucesso

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NOSSAS VISITAS


 

 

               Arnaldo Jabor        

 

Osama acabou com o “Happy End”

Com a possível vitória de Bush, o mundo regride

Eu já escrevi aqui que o atentado às torres em NY foi um show de cinema. Foi um massacre onde a visibilidade era essencial para o bom resultado. Baudrillard também disse isso, mas escrevi antes, modestamente. Era necessário que tudo fosse visto, ao contrario, por ex, do holocausto, quando a ocultação dos fornos era fundamental.

No 11 de setembro, não. Era preciso que ficasse gravada aquela cena dos que vai se repetir por toda a eternidade, mostrando o dia em que tudo mudou para sempre.

O que Osama inaugura em 11 de setembro foi um período histórico sombrio de “des-construção”. Bush aproveitou o pretexto e iniciou também a des-construção da democracia americana, há tanto tempo desejada por seus mentores, como Karl Rove, Cheney e outros. Para isso, ele passou a usar a “política do medo” e a explorar o fato de que é insuportável para o americano problemas não-resolvidos. Eles tem de “resolver” os problemas, e, no caso da torres e de Osama não há solução possível. Já era. Eles pensavam: “Aqui esta tudo sob controle, tudo tem principio meio e fim e termina como nós queremos”. Osama criou um problema insolúvel com o terrorismo suicida. Osama acabou com o conceito de “happy end” . A “cultura da certeza” americana foi humilhada por Osama.

Ninguém pode controlar essa guerra sem rosto. Diante dessa impotência, Bush e a direita partiram para um monolitismo paranóico, masoquista, partiram para rever todas as complexidades democráticas, como se elas fossem formas de “fragilidade”, de vulnerabilidade, buracos por onde poderia entrar o inimigo.

Todos os movimentos, de um lado e de outro, são regressivos. Osama quer voltar a um islã fundamentalista e, assim, estimula a direita americana de Bush a rever os avanços ocidentais. A direita cristã no poder quer a volta do ego sem inconsciente, quer a volta de Adão e Eva e do homem mínimo diante de Deus. “Give me that old-time religion!”

Não há retorno para o que já está acontecendo. Marx diz que “a economia é uma espécie de luz que dá a coloração do momento histórico, onde tudo acontece com algum reflexo dela”. Osama não veio por acaso do deserto. Nem Bush. Ambos são os fetos de um ventre histórico grávido a partir do capitalismo mudado pela globalização, ambos são frutos de um capitalismo gelado, financeiro, não-produtivo, que se esvazia a si mesmo, um capitalismo que se auto aliena e que favorece a manipulação política por gangs como a de Bush.

Só que Osama anseia por um divinismo restaurado. E Bush, em nome de um Jesus mecânico, quer ser o comandante de uma era morta para a razão. Ambos desejam arrasar com uma realidade mundial multiprodutiva, global, in-apreensível, o que faz as massas desejarem uma uniformização, algum simplismo ideológico ou clareza religiosa. Ambos desejam re-direcionar o progresso e aprisioná-lo num esquematismo religioso e obscurantista. O obscurantismo e a ilusão religiosa são uma vontade mundial. Osama e seu fiel criado Bush vêm satisfazer essa necessidade. Eles vieram para encerrar qualquer esperança platônica, vieram para negar todos os livros, todos os quadros, todos os avanços realmente democráticos que poderiam criar uma revolução laica no futuro, quase a realização de um sonho meio “nietzschiano” de um viver “artístico”, um presente dançante e inventivo, sem paraíso, mas também sem desespero.

Assim como o islâmico bate com a cabeça no Corão, nas “madrassas” onde aprendem a ser homens-bomba, Bush (e seus asseclas) quer se vingar dos inteligentes, dos bons alunos que o desprezavam em Yale, onde ele assistia às aulas de ressaca e arrotando de tédio, como nos contam seus professores. Osama e Bush vieram para trazer de volta a paz da ignorância, o sossego da estupidez, a calma da fé em Alá ou Jesus, eles vieram para nos trazer de volta a proibição, a repressão. A democracia angustia as massas ignorantes.

Assim como Osama quer criar o califado de Alá, quer impedir que o Ocidente continue a poluir a pureza do islamismo “waabista” que ele professa, ameaçado pela nossa liberdade e libertinagem, o Bush quer impedir a continuação da grande e verdadeira América que terminou com Clinton, uma América autocrítica, buscando um dialogo multilateral com o mundo.

Durante o debate, havia momentos em que Kerry soava quase nostálgico, querendo defender os valores maiores ocidentais, europeus etc...Bush arquejava, arfava de impaciência diante das palavras mais complexas do opositor democrata. Enquanto o Kerry falava de um futuro “em aberto”, um processo e não uma “solução”, Bush se defendia com palavras mágicas, holísticas, fervorosas como: “No fundo do coração eu acho...Eu creio, eu tenho certeza que....” Bush discutiu sem nenhum embasamento sob seu desejo, apenas a reafirmação da teimosia de achar que tem de perseverar no erro para resolver o problema. Senão houver solução para o terror, que a América seja então trancada num “shelter” mais profundo, que o Desejo seja uniformizado, que a democracia tradicional seja limitada, para que uma nova nação “forrest-gumpiana” floresça, medíocre e sinistra. Bush quer enterrar a era da autocrítica e dos direitos civis, que existiu até Clinton, ultimo filho dos anos 60, até que foi finalmente esmagado por Ken Starr e pela boca traidora da republicana Monica. E agora esse flagelo deve vencer as eleições. Nos USA, não há apenas uma campanha política. Há um golpe de direita em andamento contra a democracia dentro e fora de casa. God save America.

 

ACESSO RÁPIDO


 

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