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               Arnaldo Jabor        

 

A Explosão da Bolha Definitiva
Publicado em: 02/12/2008

O futuro da crise que está começando

Em 2031, o presidente do Conselho das Empresas Transnacionais que formavam a Nova ONU, o norte-coreano Kim Jong-IX, gesticulava em frente aos telões que mostravam o mundo na mais recente supercrise financeira - a Bolha Definitiva ("The Ultimate Bubble"). As telas lembravam antigos filmes russos com as massas de São Petersburgo correndo sob metralhas de policiais super-armados como Dart Vaders do capital financeiro do futuro. A explosão da superbolha criara uma rebelião de massas planetária. Apesar das imagens de desespero e fome nos telões, a voz de Kim Jong-IX se alçava: "A normalidade somos nós! O liberalismo é a natureza!" (oh, ardilosa escolha - um membro dos excluídos presidindo a Assembléia dos países ricos!). A fome mundial tinha criado mega-Somálias (a Somália antiga era encarada agora como reles dieta para emagrecer).

Ele gritava, com seu sotaque anglo-coreano: "A fome auto-regula o mercado dos vivos, a fome controla a superpopulação". No superturbocapitalismo de 2031, a cada progresso seguia-se uma crise financeira que aumentava o desemprego e o desespero. Os excedentes não eram mais as mercadorias; os excedentes eram os ex-consumidores. Aumentara a massa de países excluídos e Great Wall Street declarava: "O capitalismo se auto-inventa sempre e tudo se normalizará!" Os guetos ricos (os OAs - "oásis", em robótica) sabiam que a evolução da indústria financeira com os mais recentes "power-derivatives" alavancavam seus lucros, mas arrasavam as populações pobres num efeito dominó. Tudo bem, pois a compaixão era considerada um ridículo vício romântico. Desde a grande bolha de 2008, iniciara-se em toda parte uma guerra não de países, não de blocos, mas de violência cega entre seitas, gangues e etnias. Daí nasceu a ONU-Swat, uma espécie de Bretton Woods militarizado, convocada para baixar o pau e manter a lógica mercantil.

Essa nova Polícia Planetária lutava contra os terroristas vingadores, comandantes dos excluídos (seu fundador supremo fora Osama Bin Laden, para será lembrado em bustos eternos) que germinavam aos milhares em todo o ex-Terceiro Mundo (hoje, Exclusion Zones) e que, se comunicando num patuá mesclado de socialismo tardio e fundamentalismo jihadista, eram a brutal interface entre a miséria e os guetos de prosperidade (os OAs). Esses vingadores, paradoxalmente, fizeram progredir a fabricação de armas nucleares táticas e o assassinato tecnológico. A indústria do extermínio florescia. Nesse dia de grande pavor, o presidente Kim Jong-IX falava para o mundo em pânico. O perigo era total porque o comandante do complexo militar Rússia-Venezuela-Irã, liderado pelo bisneto de Ahmadinejad, o aiatolá Al Khagafi, que sempre pareceu concordar com a ONU, agora ameaçava o mundo rico (os OAs) com bombas Moab (American Massive Air Blast Bomb), também conhecidas como "as mães de todas as bombas", antes usadas contra o Taleban. "Loucura ou nova forma de chantagem?", gritavam as TVs.

Essas ogivas tinham sido vendidas a preço de banana por uma bisneta de Donald Rumsfeld, que, sádica, abrira os ex-arsenais norte-americanos e fugira para Cubanacan. Os líderes mundiais tremiam de pavor: "Como? Al Khagafi está jogando para valer?" A inteligência da ONU-Swat afirmava que sim, era para valer. Khagafi apontara as ogivas nucleares contra as ilhas bem-aventuradas que ainda haviam no mundo, "the Very Happy Few - VHF" . "Não haverá na Terra lugar nenhum que não seja um campo de fugitivos!", ameaçara o líder terrorista. As ogivas de Al Khagafi roncavam em contagem regressiva. Por isso, Nueva York tremia, como tremia Paris-Rive Droite, como tremia Madri-Movida, como tremiam Berlim 1 e Berlim 2 (reconstruído o muro contra os turcos imigrantes e invasores africanos), como tremia White Los Angeles, como tremia Canadian Club, como tremiam Tokiorama, Havaí-Disney, Arizona Dream e outras ilhas de consumo, sabendo que as ogivas vendidas pela neta de Rumsfeld partiriam a qualquer momento. Por isso, a Assembléia Geral da ONU-Swat fervia com discursos apavorados.

No entanto, o presidente da entidade, Kim Jong-IX conhecia bem o método de chantagem de seu antigo amigo Al Khagafi. Assim, foi genial sua interpretação teatral de pétrea intransigência nas negociações com ele, quando levou propositadamente as conversações a um impasse "trágico", o que destruiria a humanidade rica. Foi genuíno seu ódio, quando pareceu que Al Khagafi iria, em nome dos famintos e de um rancor secular, destruir as prósperas OAs. Foi genial a ostentação de desespero de Kim IX (merecia o Oscar), quando as ogivas partiram e o terror se espalhou no mundo rico. Kim IX fingiu um convincente pavor até o momento em que os foguetes mudaram subitamente suas rotas e começaram a atingir os pontos pobres do mapa-mundi (‘Exclusion Zones’ - "cus do mundo", na gíria), inclusive na própria base de lançamento de foguetes na Mesopotâmia. Kim IX ostentou surpresa e dor, mesmo sabendo que Al Khagafi, conforme combinado, voava naquele momento num Boeing 7.777 para seu feliz exílio em Canadian Club.

Foi um alívio mal-disfarçado nos oásis ricos do mundo, quando as bombas exterminaram apenas os Cepos (Centros Excedentes de População Ociosa), lugares remotos e esquecidos como Safari Lands, New Bangladesh, Rwanda Tours, Brazilian North-East, Sarajevo Park, Apartheid Europe etc... O mercado mundial se auto-regulava com a extinção do excedente de excluídos, e o liberalismo podia então começar um novo ciclo. "Quem disse que o capitalismo não se planeja?", foram as palavras sussurradas por Kim Jong-IX, em "off" para seus colegas da ONU-Swat, enquanto - "online"-- ele jorrava lágrimas de desespero pela catástrofe que exterminou milhões de ex-consumidores. A operação de raspagem do perigo malthusiano fora um sucesso!

 

 

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