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               Arnaldo Jabor        

 

Entrevista concedida em Portugal
 

Arnaldo Jabor: Do Brasil do cinema novo aos palcos portugueses

No cinema brasileiro todos o conhecem. Arnaldo Jabor integrou o movimento de fundação do Cinema Novo, juntamente com Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos, entre outros. Das oito longas-metragens que realizou, uma ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e outra, “Eu Sei que Vou te Amar”, conquistou a Palma de Ouro para melhor atriz, Fernanda Torres, no Festival de Cannes, tornando-se um dos filmes mais importantes da sua carreira, posteriormente adaptado ao teatro.

Afastado do cinema há cerca de 10 anos, tem-se dedicado ao jornalismo. Em Portugal podemos vê-lo no canal GNT e lê-lo no Diário de Notícias com “Manhattan Connection”.

O NetParque encontrou-o em Lisboa, num clima de expectativa, no Teatro Villaret, onde veio para assistir, terça-feira, dia 19 de Junho, às 21h30, à encenação que Cristina Carvalhal fez do seu texto “Eu Sei que Vou te Amar” e conversou sobre esta estranha forma de amor.

O texto “Eu Sei que Vou te Amar” foi inicialmente escrito para cinema e ganhou a Palma de Ouro para a melhor atriz, a Fernanda Torres. Como é que surgiu a idéia de fazer um filme tão pouco cinematográfico, com apenas dois atores, e que assenta no poder da palavra?

Fiz oito longas-metragens durante a minha carreira. “Eu Sei que Vou te Amar” foi realizado em 1986. Nessa altura, o cinema no Brasil estava a atravessar uma crise muito grande. Não havia dinheiro. Eu precisava de trabalhar, como toda a gente, e no decorrer de uma conversa com uma pessoa do Instituto do Cinema do Brasil surgiu a idéia de fazer um filme de um homem a conversar com uma mulher sentados numa cama.

Nessa altura tinha acabado de ver um filme em Nova Iorque, “My Dinner With André”, de Louis Malle que me ajudou e me inspirou. O filme, no formato com que ficou, foi barato e ajudou-me psicologicamente, porque eu tinha acabado de sair de uma separação muito dolorosa e só pensava nisso. Naquela altura só seria capaz de escrever uma história sobre o amor e sobre a separação.

Uma das minhas preocupações também era a de fazer algo pouco cinematográfico, propositadamente teatral, para desconcertar. O filme foi um arraso no Brasil, fez mais de quatro milhões de espectadores. Depois foi a Cannes, ganhou o prémio e, quando regressou ao Brasil, chegou aos cinco milhões de espectadores. “Eu Sei que Vou te Amar” tornou-se um filme de culto para os adolescentes.

O título desta peça tem alguma relação com a música homônima do Tom Jobim e do Vinícius de Moraes?

É uma coincidência. Quando acabei de escrever o guião para o filme não conseguia arranjar um título. Até que, de repente, cismei com este. Não tem nenhuma relação especial. Aliás, o Tom Jobim ficou chateado por eu não ter colocado a música no filme, mas ficava muito óbvio.

Nos anos 90 o texto foi adaptado para teatro também com relativo sucesso. Chegou mesmo a passar por Portugal. A adaptação foi sua?

A minha mulher é produtora e sugeriu que eu adaptasse o texto para teatro, o que era muito fácil dada a sua estrutura. Também há que ter em conta a conjuntura. Estávamos no início dos anos 90 e o Presidente Collor de Melo tinha exterminado por completo o cinema no Brasil. Todos nós precisávamos de viver e foi nesse contexto que surgiu a adaptação ao teatro.

Funcionou na perfeição porque o texto é mais teatral do que cinematográfico. A peça, que contava com as interpretações de Alexandre Borges e de Júlia Lemmertz, foi um sucesso, mas não tanto como o filme. Houve garotos que viram o filme sete, oito vezes. Era como se aprendessem a amar através daquele filme.

Este foi o segundo filme que fez sobre o amor e as relações por vezes estranhas e perversas entre um homem e uma mulher…

Sim, eu já tinha feito, em 1981, “Eu Te Amo”, um filme com a Sônia Braga que chegou a ser exibido em Portugal. Mas esse era mais erótico, mais sexual. Hoje em dia tenho uma certa vergonha de algumas cenas do filme, porque são muito fortes, mas na época fizeram todo o sentido porque transgrediam, provocaram a censura. O filme funcionou como um soco, como um desafio carnal a um sistema de controle que era muito apertado. Hoje chego a ter vergonha de algumas cenas de putaria(risos).

Qual é o seu envolvimento com esta encenação portuguesa de “Eu Sei que Vou te Amar”?

Nenhuma. Não sei nada. Acabei de conhecer os atores e a encenadora. Ninguém me perguntou nada, o que acho bem, porque tiveram uma postura livre perante o texto. Mas não faço a mínima ideia de como está.

Este texto agrada-me bastante porque é quase épico. É um texto muito em cima das palavras, do monólogo, da forma de falar. É um prazer verbal. Não é uma peça de acontecimentos, é uma peça de discurso. E fico muito contente por ter despertado a atenção de outras pessoas, num outro país que não o meu. Sinto-me honrado e curioso para ver como ficou.

Há 10 anos que está afastado do cinema e a viver mais perto do jornalismo e da análise política. A paixão pela realização morreu?

O último filme que realizei foi em 1991, para um canal de televisão francês. Depois disso perdi a vontade de voltar ao cinema. Comecei a fazer jornalismo, o que se revelou uma experiência gratificante, que me preenche totalmente. Escrevo em 13 jornais do Brasil, faço comentário político, cultural e comportamental na TV Globo. A minha vida começou a ficar muito interessante.

O cinema, no Brasil, faz com que as pessoas se sintam muito fora do mundo. A não ser nos Estados Unidos, o cinema é uma profissão marginalizada. Ao fazer comentário político numa estação como a Globo, que chega a 50 milhões de pessoas, sinto que estou a ser útil, de uma utilidade pública. Sinto que me estou a meter na vida nacional.

De qualquer forma, os seus filmes foram bastante conhecidos e estiveram a concurso nos mais importantes festivais de cinema europeus. Ganhou um Urso de Prata, uma Palma de Ouro…

Sim, mas funcionou tudo numa escala bem mais reduzida. Não se compara ao que sinto agora. O Presidente da República telefona-me, os ministros sentem-se visados nos meus comentários. É interessante, é muito estimulante meter-me na vida política do Brasil, porque é um país que está em crise permanente e que, neste momento, ou dá certo, ou cai de vez.

O programa que faço para televisão e que chega até Portugal (“Manhattan Connection”) é mais ligeiro, é um divertimento, não tem a carga do resto que faço. Há pouco tempo o Senado quis prender-me. É uma sensação muito boa, esta de cutucar a vida política do Brasil (risos).

Talvez volte a fazer cinema, o que eu não quero é depender do cinema para viver. Quero fazer filmes por prazer, por amor, por desejo, mas viver de cinema é um inferno, é um sofrimento permanente.

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