O documentário “Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos”,
dirigido por Marcelo Masagão e lançado no Brasil em 1999, é
uma Memória do Século XX.
O diretor dá uma volta ao mundo
passando por guerras, dirigindo o olhar para a conseqüente
banalização da vida e da morte. Aborda a industrialização do mundo –
ou das partes que passaram pelo processo de modernização industrial
– trata da alienação dos trabalhadores que se transformaram em peças
da engrenagem capitalista. Mostra regimes totalitários, religiões,
em suma, humaniza e contextualiza a história do século passado.
Masagão fala da mudança nas formas de comunicação após o
advento do telefone, da energia elétrica, do rádio. Mostra a
evolução da independência feminina ao longo do século, a produção em
série de utensílios domésticos e carros.
Relembra a queda do Muro de Berlim, a violenta Revolução
Cultural na China dos anos 70, sob os pés de Mao Tsé-Tung; a
extração aurífera em Serra Pelada, no Brasil; a quebra da Bolsa de
Nova Iorque, em 1929, e o inevitável desemprego da população, a
fome, a perda da dignidade e a inutilidade dos diplomas dos letrados
da época.
A dissipação de famílias e sonhos nas cidades japonesas de
Hiroshima e Nagasaki, devastadas pelas bombas atômicas;
cita intelectuais, cientistas, escritores subversivos que tiveram
seus livros queimados em praça pública por soldados nazistas.
A Solidão e a Injustiça das Guerras.
Traumas, humilhações, desespero,
protestos, suicídios e ilusões.
Chefes de Estado como Stálin, Hitler, Pol Pot, Franco, Pinochet,
Médici, entre outros, que causaram a morte de milhões de
pessoas, motivados pelo que o autor chama de paranóia, são
apresentados de forma clara e sem filtros.
O Girl Power na década de 20 é muito bem retratado por
mulheres em passeata, queimando sutiãs, entrando no mercado de
trabalho sob o lema feminista “We can do it!”.
Os maiôs encurtam, as mini-saias ganham adeptas, o controle da
natalidade choca, mas permanece. Mulheres fumam, bebem, dançam,
livram-se das amarras do lar.
A arte mostra a nudez de várias formas, de Duchamp a Munch,
os artistas expressam a igualdade entre os sexos, que é exaltada e
passa a ser valorizada. Religiões como o Islamismo, o Judaísmo, o
Hinduísmo e o Candomblé são abordados como formas de buscar a
Deus e Masagão “choca” o espectador ao mostrar uma criança “em
alguma esquina do hemisfério sul”, a espera de Deus. Abandonada,
indefesa, e ainda assim, viva.
Recorda a paz budista de Mahatma Gandhi, no Tibet, que
venceu resistências imperialistas sem dar um tiro sequer.
O filme é todo exibido em preto e branco e no fim um
cemitério é filmado em cores. No portal a frase: “Nós
Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos” deixa ao espectador
perguntas e respostas que só a linguagem cinematográfica é
Capaz de Produzir.